E-books não são livros! Como o mercado editorial vai reagir a essa constatação?

Encontrei este artigo hoje, no site Baguete. Apesar de não ser tão recente (27/01/2011), traz informações preciosas sobre o panorama geral do mercado editorial e sobre a influência dos formatos digitais no negócio livreiro. Importante para todos envolvidos, de uma forma ou de outra, com o produto Livro.


Uma atividade que pouco se alterou ao longo dos anos, a leitura vive um processo de fragmentação. Um excelente artigo publicado na edição The world in 2011, da revista The EconomistCurl up with a good screen, de Alix Christie e Ludwig Siegele – motivou uma reflexão sobre o quanto as novas tecnologias vão alterar o mercado editorial e a relação entre autores e leitores. Enquanto 2010 passou à história como o ano em que os leitores eletrônicos e tablet se inseriram no cotidiano de leitores de diferentes perfis, 2011 será marcado pela ruptura com o formato atual do livro.

No ano passado, nos Estados Unidos, o mercado de leitores eletrônicos faturou US$ 11 milhões e a perspectiva é que neste ano o faturamento alcance os US$ 15 milhões, de acordo com o Forrester Research. A ruptura com o formato convencional do livro está sendo potencializada com a popularização de dispositivos móveis – smartphones, iPad. O novo paradigma é que o livro eletrônico deve ser encarado como app (aplicativos para download). Nos Estados Unidos, as Diginovels (obras de ficção em formato digital) contam com recursos como vídeos, ilustrações em 3-D e aplicativos – recursos que tornam os textos interativos; o mesmo ocorre com alguns livros didáticos.

Essa verdadeira revolução tecnológica está mudando o livro e requer que os editores ampliem o conhecimento não apenas para desenvolver “produtos” diferenciados, mas para proteger autores e obras da constante ameaça da pirataria. A indústria do livro está diante de novos desafios e oportunidades apresentadas pelo marketing online; algumas lojas norte-americanas – estabelecimentos reais, não online – já estão trabalhando com os books app. “Clones” de leitores eletrônicos, produzidos em países emergentes, estão tornando o item mais barato e forçando um avanço veloz: a vida útil das baterias aumentou e o acesso sem fio para downloads deve se tornar padrão para dispositivos high-end.

O artigo cita que, por pressão da concorrência, os e-books devem ficar mais baratos em 2011. Além disso, este ano deve marcar o lançamento do Google Editions – a terceira maior loja de livros digitais atrás de Amazon e Apple. Nos Estados Unidos, em 2010, a participação do livro eletrônico nas vendas do mercado editorial foi de 10%; em 2011 será de 20%.

Diante desse cenário, os leitores se dividem entre os que apreciam o papel e os amantes da tecnologia. Ou seja, o mercado editorial tem tratado a questão como se o e-book fosse de fato um livro. Acredito, firmemente, que não seja. Há livros cuja narrativa convencional não se presta à mobilidade e interatividade.
Em paralelo, surgem novas narrativas como a japanese phone novel (obra de ficção japonesa) cujo conteúdo dá um novo impulso ao formato conto.

Não apenas a obra literária impressa e digital são diferentes, mas a relação entre o escritor e editor. Tenho conhecimento, inclusive, de autores norte-americanos e europeus que comercializam diretamente para o formato digital sem passar pelos editores; a tendência é que novos autores sigam o exemplo. Será, então, que o livro impresso e a profissão de editor estão vivendo os últimos suspiros? Não creio nisso. Defendo – e acredito firmemente – na possibilidade de haver lucidez em elos da cadeia.

Entender que o e-book é um produto diferente do livro impresso é o primeiro passo para reinventar o negócio editorial. Há público para os dois produtos e há profissionais com talento para reinventar ambos.
Como os autores do artigo, sei que o livro impresso nunca morrerá – da mesma forma como demonstram os “devotos” do vinil e do cinema. No entanto, a vida dos livros depende da capacidade de se reinventar da indústria editorial e de seus profissionais.

Lourdes Magalhães é presidente da Primavera Editorial, Executiva graduada em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, EUA).

Um comentário:

Rafael Mussolini disse...

o MERCADO EDITORIAL deve agora utilizar dessas novas tecnologias ao mesmo tempo em que demonstra a importãncia de manter o bom e velho livro tradicional em pauta. Não acredito na morte do livro impresso, acho que ele sempre terá seu espaço.