É comum ouvirmos que o brasileiro conhece mais sobre outros países do que sobre o seu próprio. A discussão pode ir longe, mas confesso que concordo com a afirmação. O conjunto de fatores que nos leva a esta realidade é imenso. Políticas públicas, abandono da educação, nosso próprio desinteresse, as aulas que são ministradas do mesmo jeito desde mil setecentos e bolinha... a lista não tem fim.
Aproveitar as boas oportunidades que nos aparecem para mudar este quadro, deveriam ser agarradas, bem fortemente, com as duas mãos. Foi o que fiz quando ganhei de uma grande amiga o livro que hoje indico. Natural de São Paulo e hoje moradora de Aracaju, ela aprendeu muito sobre a cultura do Nordeste e é uma entusiasta na divulgação dos hábitos e costumes locais. Fui premiada!
Frances de Pontes Peebles, a autora de "A Costureira e o Cangaceiro" (Editora Nova Fronteira), nasceu em Recife e foi criada nos Estados Unidos. Já li muita informação desencontrada - algumas dizem que o livro tem um pouco de biografia, baseada na história de sua avó materna. Sinceramente, isto é o menos importante. A história é vigorosa, sendo real ou fantasiada.
Para mim, além da possibilidade de entrar um pouquinho mais na história do Brasil de maneira inesquecível (devorei as páginas deste livro!), foi marcante também o pano de fundo, o coração deste romance: a relação das duas irmãs, Emília e Luzia. Separadas e com propósitos de vida bem diferentes, uma fica no sertão e a outra vai para a cidade, Recife. As diferenças de personalidade, os valores que trazem dentro de si, a forma como cada uma vê a vida e como se posicionam diante das dificuldades que surgem, não diminuem o amor e respeito que uma tem pela outra. Mesmo distantes.
A era Vargas, a vida no cangaço, o desenvolvimento de uma capital - estes sim, são fatos e costumes históricos que fazem com que conheçamos um pouco mais deste Brasil tão rico e diverso.
O período retratado, a década de 30, ficou para trás. Hoje só podemos aprender com ele. Os sentimentos que permeiam este livro através das vidas destas duas mulheres, são atuais, humanos - está em nós. Podemos vivenciá-los.
Até a próxima postagem - depois me conta o que achou do livro!
Sylvia Beatrix
2 comentários:
Um excelente livro. O li há dois anos, e fiquei bastante impressionado com a narrativa vigorosa e regionalista. A escrita regionalista, mais do que um enredo atraente, necessita de uma descrição de lugares e pessoas consistente e precisa, e Frances conseguiu as duas coisas com maestria. Eu vivi em uma cidade nordestina na minha infância, e durante a leitura pude reviver nitidamente a época. Esse é um livro que deveria estar ao lado dos grandes clássicos da literatura brasileira.
O PAPEL E O POETA
Não quero mais ser um coadjuvante
Para ser lembrado apenas por um lapso.
Estou farto de pensamentos disfarçados em abstrato
Ziguezagueando por entre linhas de raciocínio.
Quem é o criador?
O poeta que se torna escravo de suas musas
Ou o papel que as alforria silenciosamente?
Perguntas sem respostas
Cuja desculpa se encontra
No último parágrafo.
Cansei de ser o fardo de uma pena
E depósito de frustrações.
Quero libertar-me desse jugo
E prender-me em minhas próprias idéias – ou:
Ser o personagem da minha própria pessoa.
Quero atuar em meu próprio mundo,
Ser a minha gramática,
Sem uma sentença que me condene.
Quero descobrir o meu verdadeiro papel,
Poder enxergar a mim mesmo.
Não sobre uma escrivaninha fria e empoeirada
Que o tempo deixou no esquecimento,
Mas sim em cada alma,
Em cada poesia.
( Agamenon Troyan )
Skype: tarokid18
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