Inocente solidão

"Na verdade existem muitos jeitos de fazer cadáveres, mas os mais usados são com os orifícios. Os orifícios são buracos que você faz nas pessoas para o sangue vazar."

Dentro de seu palácio o pequeno Tochtli joga playstation por horas, memoriza palavras difíceis como sórdido, nefasto, pulcro, patético; tem aulas ministradas por um tutor pois é proibido de sair e, em toda sua pequena existência, conheceu umas 14 ou 15 pessoas. Menino forte, não chora por não ter mãe - "quem chora é dos maricas". Coleciona chapéus do mundo inteiro e de todas as épocas. Está um pouco aborrecido no momento e para melhorar seu ânimo, será presenteado com o que mais deseja: um hipopótamo anão da Libéria. Patético.

As noventa páginas de "Festa no Covil" (Juan Pablo Villalobos, Cia. das Letras) são lidas de uma vez só, sem fôlego. Foi assim comigo. Para conhecer um pouco mais sobre este mexicano que mora aqui no Brasil, leia esta entrevista dele na Feira Literária de Poços de Caldas (MG).

Romance de estréia do autor, em algumas resenhas está classificado como narcoliteratura. O narrador de idade indefinida é filho do narcotraficante "El Rey". Somos levados por ele a todos os ambientes da enorme casa onde mora, escondida de tudo e de todos. Participamos do que acontece pela TV e pelas conclusões de Tochtli.

Com uma linguagem quase pueril para um tema tão denso, acompanhamos negociatas, assassinatos e a caçada - afinal, para completarem o zoológico do palácio, falta o hipopótamo anão da Libéria. 

Tochtli faz parte de um bando. Bandos têm a ver com solidariedade, com não mentir uns para os outros. Mas, o que acontece quando descobrimos uma mentira dentro do bando?

No universo imaginário de uma criança povoado por reis franceses, charros e samurais há espaço para a realidade que envolve cadáveres, armas e solidão. Nefasto.

Boa leitura!

Sylvia Beatrix




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